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Florestas não se recuperam após mineração de ouro na Amazônia

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Um artigo publicado nesta segunda-feira (2) na revista Communications Earth & Environment revela que as florestas da Amazônia no Peru não estão se recuperando após a mineração de ouro

Segundo o estudo, o problema vai além da contaminação por metais pesados: o solo está seco e sem capacidade de reter água. Um tipo específico de operação, chamada “mineração por sucção”, altera o terreno, esvaziando a umidade e aquecendo o solo, o que impede que novas árvores cresçam.

Em poucas palavras:

  • Florestas da Amazônia peruana não se regeneram após mineração de ouro por sucção intensa;
  • Além da contaminação, o solo fica seco, quente e incapaz de reter água, inviabilizando o reflorestamento;
  • Pesquisadores usaram drones e sensores para estudar áreas mineradas próximas à Bolívia e ao Brasil;
  • A mineração por sucção remove todo o solo fértil, criando montes de areia estéreis e lagoas contaminadas;
  • Essas pilhas de areia drenam água rapidamente e aquecem até 60 °C, matando mudas recém-plantadas;
  • Cientistas propõem rebaixar montes e nivelar terreno para ajudar raízes a acessarem a água subterrânea.
Áreas de mineração de ouro não se recuperam nas florestas da Amazônia peruana. Crédito: Kakteen – Shutterstock

A pesquisa ajuda a entender por que tentativas de reflorestamento na região de Madre de Dios, no sul do Peru, têm falhado. Em um comunicado, Josh West, geólogo da Universidade do Sul da Califórnia e coautor do estudo, explica que a mineração não apenas destrói o solo, como também o transforma num ambiente inóspito, seco e quente demais para qualquer planta sobreviver – mesmo mudas replantadas.

Liderada pela cientista Abra Atwood, do Centro de Investigação Climática Woodwell, em Massachusetts, a equipe, formada por cientistas dos EUA e do Peru, estudou dois locais de mineração desativados próximos à fronteira com o Brasil e a Bolívia. Eles usaram drones, sensores e imagens subterrâneas para investigar como o solo foi modificado após a mineração.

A mineração por sucção, comum em operações familiares, usa jatos de água de alta pressão para soltar a terra. Esse material passa por filtros que separam o ouro, enquanto o restante, incluindo o solo fértil, é descartado. O que sobra são lagoas sujas e grandes montes de areia, que chegam a dez metros de altura, onde quase nada volta a crescer.

Diferentemente da mineração por escavação, que às vezes preserva parte do solo original, o processo por sucção deixa o terreno quase estéril. Os cientistas usaram um método chamado resistividade elétrica para medir como a água se move no solo e descobriram que os montes de areia drenam a chuva até 100 vezes mais rápido que o normal.

Garimpeiros pereuvianos usando eclusa para encontrar ouro na margem do rio. Crédito: Ken Griffiths – Shutterstock

Essas áreas também secam muito mais rápido após as chuvas, perdendo a umidade essencial para as plantas. Em comparação com florestas intactas, os solos das áreas mineradas estavam sempre mais quentes e secos. Em alguns pontos, a superfície atingia 60°C – o suficiente para matar qualquer muda recém-plantada.

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“Só existe uma Amazônia”

Imagens de câmeras térmicas instaladas em drones mostraram claramente o contraste: enquanto o solo afetado pela mineração “fritava” sob o Sol, áreas próximas à floresta ainda mantinham temperaturas mais amenas. “É como tentar plantar uma árvore dentro de um forno”, resume West.

Mesmo com alguns sinais de vida nas bordas das lagoas e áreas mais baixas, boa parte do solo segue estéril, especialmente nas regiões onde há acúmulo de areia. Esses locais ficam longe do lençol freático e perdem umidade rapidamente, o que dificulta o replantio de árvores.

Imagens aéreas sobre o desmatamento devido à mineração ilegal de ouro. Crédito: Christian Inga – Shutterstock

Entre 1980 e 2017, a mineração artesanal de ouro destruiu mais de 95 mil hectares de floresta tropical apenas em Madre de Dios. Isso equivale a uma área sete vezes maior que a cidade de São Francisco. A atividade segue crescendo e ameaça tanto a biodiversidade quanto comunidades indígenas da região.

Para recuperar essas áreas, os cientistas propõem uma solução simples: reconfigurar o terreno. Rebaixar as pilhas de areia e preencher lagoas abandonadas pode ajudar as raízes a alcançarem a água subterrânea, favorecendo o reflorestamento. Esperar pela erosão natural é inviável, já que o processo pode levar décadas.

“Só existe uma Amazônia”, lembra West. “É um ecossistema único no planeta. Se a perdermos, não há substituto.”




Fonte:Olhar Digital

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