Geral
Irã mata 11 no maior ataque a Israel, que alveja ministério | Tribuna Online

Ao menos 11 pessoas morreram e 200 ficaram feridas em duas barragens de mísseis balísticos iranianos
O conflito aberto entre Israel e Irã entrou em seu terceiro dia marcado pela escalada das perdas do Estado judeu devido a ataques retaliatórios de Teerã e novas ações no país persa. Ao menos 11 pessoas morreram e 200 ficaram feridas em duas barragens de mísseis balísticos iranianos na madrugada deste domingo (15).
A operação israelense, iniciada na sexta (13) com o objetivo declarado de acabar com o programa nuclear que pode dar a bomba atômica aos aiatolás, prosseguiu também. O governo do Irã falou em civis mortos em Teerã, e Tel Aviv emitiu um alerta para moradores de áreas próximas a bases militares deixarem suas casas.
A escalada, temperada por uma fala da chancelaria iraniana sugerindo que a guerra pode parar na improvável hipótese de Israel cessar os ataques, elevou a belicosidade de ambos os lados. O premiê Binyamin Netanyahu disse que irá revidar os contra-ataques.
A madrugada deste domingo infligiu o maior número de vítimas a Israel desde o início das agressões. Em Bat Yam, perto de Tel Aviv, um míssil iraniano atingiu diretamente um prédio residencial. Pelo menos sete civis morreram, entre eles duas crianças, e mais de 200 ficaram feridos, segundo a Magen David Adom, equivalente à Cruz Vermelha israelense.
Já em Tamra, mais ao norte, um projétil destruiu uma casa de dois andares em que moravam quatro mulheres árabes da mesma família. Elas foram identificadas como Manar Khatib (mãe), as filhas Hala, 20, e Shada, 13, e uma cunhada de Manar, com o mesmo nome. Moradores de Tamra, uma pequena cidade próxima de Haifa, se queixavam de uma suposta falta de abrigos para acolher toda a população em situações de emergência.
Após esses ataques, uma nova barragem iraniana neste domingo foi largamente interceptada, disse Israel, sem vítimas. “O Exército israelense atacará esses locais e continuará a arrancar a pele da cobra iraniana em Teerã e em todos os lugares —tendo como alvo capacidades nucleares e sistemas de armamentos”, disse o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, em nota.
Com as mais recentes agressões, há até agora 14 mortos em Israel e talvez 138 no Irã —o dado havia sido informado pela mídia estatal, mas o governo fala em 80 vítimas. A disparidade sugere a evidente maior intensidade da ação de Netanyahu, mas do ponto de vista de impacto psicológico é importante notar que são perdas proporcionais do ponto de vista populacional: há 9,7 milhões de israelenses e 92 milhões de iranianos.
O escopo de Tel Aviv, contudo, é maior. Além das instalações nucleares, Netanyahu emulou a tática empregada para desmantelar o Hezbollah libanês, que atacava com baixa intensidade o norte israelense em apoio à guerra dos terroristas do Hamas palestino contra o Estado judeu.
Logo de cara, o ataque israelense visou matar um número considerável de líderes militares, 20 ao menos, do Irã. O braço-direito do líder supremo da teocracia, Ali Khamenei, também morreu, e o aiatolá mesmo pode ser um alvo, segundo disseram autoridades israelenses à mídia americana.
Além disso, Israel está buscando a degradação militar do Irã e diz ter conseguido criar um corredor seguro para ataques do oeste do país até a capital. Teerã nega e disse ter derrubado um caça israelense neste domingo, algo sem confirmação ainda.
Nesta manhã de domingo, os israelenses também atingiram o prédio do Ministério da Defesa, na capital iraniana, além de um depósito de petróleo perto de Teerã.
As forças de Netanyahu também focaram em lançadores de mísseis terra-terra, a principal força ofensiva do Irã. Novamente, há a questão da quantidade: estima-se que Teerã tenha de 2.000 a 3.000 desses, então como os ataques contínuos desde sexta mostram, há muito estrago a ser feito ainda se a briga continuar.
Um problema maior para Israel, além da intensidade do conflito após quase dois anos de guerra na Faixa de Gaza e outras frentes, é que para de fato destruir a capacidade do Irã de fazer uma ogiva nuclear, lhe faltam alguns instrumentos segundo um relativo consenso de analistas.
No caso, as bombas de penetração profunda de bunkers, que Tel Aviv não tem. Mas os Estados Unidos, fiadores do grosso da capacidade militar de Israel, têm. Trata-se da MOP (Penetrador de Munição Maciça, na sigla inglesa), um trambolho de 13,6 t que só pode ser lançado pelos bombardeiros furtivos americanos B-2.
Os EUA têm bases e um grupo de porta-aviões na região, e contam com o mais distante aeródromo de Diego Garcia, no Oceano Índico, para lançar ataques apoiados com reabastecimento aéreo sem arriscar retaliações iranianas.
A alternativa do Estado judeu seria o emprego de alguma de suas 90 bombas atômicas, algo obviamente fora de cogitação exceto em caso de risco existencial para Israel. Assim, rumores acerca da participação americana na guerra cresceram de sábado para cá.
Segundo o site Axios, Israel já fez o pedido, e a rede NBC chegou a relatar uma reunião para debater o caso no Pentágono, que poderia ocorrer neste domingo.
Até aqui, o presidente Donald Trump, um aliado de Netanyahu, disse que irá entrar com força na guerra apenas se o Irã ataca alguma das forças americanas na região. O Irã, por sua vez, diz que só o fará se recursos dos EUA forem usados para proteger Israel.
Em uma postagem na rede Truth Social, ele escreveu: “Irã e Israel devem fazer um acordo, e farão um acordo, e nós teremos paz logo entre Israel e Irã”.De que forma, não disse ainda.
Um envolvimento americano seria desastroso para o Irã, mas escalaria o conflito regional para um nível outro. O Irã é aliado estratégico da Rússia e já recebeu apoio da China e mesmo da rival Turquia, que é integrante da mesma aliança Otan que os EUA, na atual troca de fogo.
Adensando o enredo há a ameaça dos iranianos de fechar o Estreito de Hormuz, por onde passam mais de 30% do petróleo e 20% do gás liquefeito do mundo, inclusive 90% da produção de óleo da Arábia Saudita. Durante anos, o Irã se preparou para isso, com mísseis, drones e minas marinhas.
Isso elevaria, e muito, o risco do envolvimento de outras países da região na crise. Das monarquias do golfo Pérsico, apenas o Qatar tem boa interlocução com Teerã —muito mais bem armados, sauditas e emiratis podem ser levados a se envolver. Riad já esteve numa guerra indireta com o Irã, no conflito civil do Iêmen, e tem más memórias que podem servir de dissuasão a uma nova ação.
MATÉRIAS RELACIONADAS:
Fonte:Tribuna OnLine